segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Parte 2 - Para gostar de ler (volume 1)

PARTE 2 – ANIMAIS

2.1 O pintinho, Carlos Drummond de Andrade.
2.2 História triste de tuim, Rubem Braga.
2.3 A verdadeira história do pio, Paulo Mendes Campos
2.4 O dia da caça, Fernando Sabino.

Parte 2 (Animais) - Crônica 1

O PINTINHO
Carlos Drummond de Andrade

Foi talvez de um filme de Walt Disney que nasceu a moda de enfeitar com pintinhos vivos as mesas de aniversário infantil. Era uma excelente ideia, no mundo ideal do desenho animado; conduzida para o mundo concreto dos apartamentos, também alcançou êxito absoluto. Muitos garotos e garotas jamais tinham visto um pinto de verdade, e queriam comê-lo, assim como estava, imaginando ser uma espécie de doce mecânico, mais saboroso. Houve que contê-los e ensinar-lhes noções urgentes de biologia. As senhoras e moças deliciaram-se com a surpresa e gula dos meninos, e foram unânimes em achar os pintos uns amorecos. Mas estes, encurralados num centro de mesa, entre flores que não lhes diziam nada ao paladar, e atarantados por aquele rumor festivo e suspeito, deviam sentir-se absolutamente desgraçados. 
Como a celebração do aniversário terminasse, e ninguém sabia o que fazer com os pintos, pareceu à dona da casa que seria gentil e cômodo oferecer um a cada criança, transferindo assim às mães o problema do destino a dar-lhes. O único inconveniente da solução era que havia mais guris do que pintos, e não foi simples convencer aos não contemplados que aquilo era brincadeira para guris ainda bobinhos, e que mocinhas e rapazinhos de nível mental superior não se preocupam com essas frioleiras. 
Os pintos, em consequência, espalharam-se pela cidade, cada qual com seu infortúnio e seu proprietário exultante. O interesse das primeiras horas continuava a revestir-se de feição ameaçadora para a integridade física dos recém-nascidos (se é que pinto produzido em incubadora realmente nasce). Um deles foi parar num apartamento refrigerado, e posto a um canto da copa, sobre uma caixinha de papelão forrada de flanela. Semeou-se em redor o farelinho malcheiroso que o gerente do armazém recomendara como alimento insubstituível para pintos tenros, e que (o pai leu na enciclopédia) devia ser, teoricamente, farinha de baleia. A ideia da baleia alimentando o pinto encheu o garotinho de assombro, e pela primeira vez o mundo lhe apareceu como um sistema.  O pinto sentia um frio horroroso, mas desprezava a flanela, e a todo instante se descobria, tentando fugir. Procurava algo que ele mesmo não sabia se era calor da galinha ou da criadeira. À falta de experiência, dirigiu seus passinhos na direção das saias que circulavam pela copa. As saias nada podiam fazer por ele, senão recolocá-lo em seu ninho, mas o pinto procurava sempre, e piava.  O garoto queria carregá-lo, inventava comidas que talvez interessassem àquele paladar em formação. Não senhor - explicou-lhe a mãe:
- Não se pode pegar, não se pode brincar, não se pode dar nada, a não ser farelo e água. 
- Nem carinho? 
- Meu amor, carinho de gente é perigoso para bicho pequeno. 
Mas o pinto, mesmo sem saber, estava querendo era um palmo sujo de terra, com insetos e plantas comestíveis, o raio de sol batendo na poça d'água caída do céu, e companhia à sua altura e feição, e, numa casa assim tão bonita e confortável, esses bens não existiam. E piava. 
A situação começou a preocupar a dona da casa, que telefonou à amiga doadora do pinto: que fazer com ele? 
- Querida, procure criá-lo com paciência, e no fim de três meses bote na panela, antes que vire galo. É o jeito. 
Não virou galo, nem caiu na panela. No fim de três dias, piando sempre e sentindo frio, o pinto morreu. Foi sua primeira e única manifestação de vida, propriamente dita. 
O menino queria guardá-lo consigo, supondo que, inanimado, o pinto se transformara em brinquedo, manuseável. Foi chamado para dentro, e quando voltou o corpinho havia desaparecido na lixeira. 

Parte 2 (Animais) - Crônica 2

HISTÓRIA TRISTE DE TUIM
 Rubem Braga

João-de-barro é um bicho bobo que ninguém pega, embora goste de ficar perto da gente, mas de dentro daquela casa de João-de-barro vinha uma espécie de choro, um chorinho fazendo tuim, tuim, tuim....
A casa estava num galho alto, mas um menino subiu até perto, depois com uma vara de bambu conseguiu tirar a casa sem quebrar e veio baixando até o outro menino apanhar. Dentro, naquele quartinho que fica bem escondido depois do corredor de entrada para o vento não incomodar, havia três filhotes, não de João-de-barro, mas de tuim.
Você conhece, não? De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes, um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando. 
O menino levou-os para casa, inventou comidinhas para eles, um morreu, outro morreu, ficou um. Geralmente se cria em casa é casal de tuim, especialmente para se apreciar o namorinho deles. 
Mas aquele tuim macho foi criado sozinho e, como se diz na roça, criado no dedo. Passava o dia solto, esvoaçando em volta da casa da fazenda, comendo sementinhas de imbaúba. Se aperecia uma visita fazia-se aquela demonstração: era o menino chegar na varanda e gritar para o arvoredo: tuim, tuim, tuim! Às vezes demorava, então a visita achava que aquilo era brincadeira do menino, de repente surgia a ave, vinha certinho pousar no dedo do garoto.
Mas o pai disse: "menino, você está criando muito amor a esse bicho, quero avisar: tuim é acostumado a viver em bando. Esse bichinho se acostuma assim, toda tarde vem procurar sua gaiola para dormir, mas no dia que passar pela fazenda um bando de tuins, adeus. Ou você prende o tuim ou ele vai embora com os outros, mesmo ele estando preso e ouvindo o bando passar, esta arriscado ele morrer de tristeza". E o menino vivia de ouvido no ar com medo de ouvir bando de tuim.
Foi de manhã, ele estava cantando minhoca para pescar quando viu o bando chegar, não tinha engano: era tuim, tuim, tuim... Todos desceram ali mesmo em mangueiras, mamonas e num bambuzal, dividido em partes. E o seu? Já tinha sumido, estava no meio deles, logo depois todos sumiram para uma roça de arroz, o menino gritava com o dedinho esticado para o tuim voltar, mas nada dele vir.
Só parou de chorar quando o pai chegou a cavalo, soube da coisa e disse: " venha cá". E disse: " o senhor é um homem, estava avisado do que ia acontecer, portanto, não chore mais".
O menino parou de chorar, pois seu pai o havia consolado, mas como doía seu coração! De repente, olhe o tuim na varanda! Foi uma alegria na casa que foi uma beleza, até o pai confessou que ele também estivera muito infeliz com o sumiço do tuim.
Houve quase um conselho de família, quando acabaram as férias: deixar o tuim, levar o tuim para São Paulo? Voltaram para a cidade com o tuim, o menino toda hora dando comidinha a ele na viagem. O pai avisou: "aqui na cidade ele não pode andar solto, é um bicho da roça e se perde, o senhor está avisado".
Aquilo encheu de medo o coração do menino. Fechava as janelas para soltar o tuim dentro de casa, andava com ele no dedo, ele voava pela sala, a mãe e a irmã não aprovavam, o tuim sujava dentro de casa.
            Soltar um pouquinho no quintal não devia ser perigo, desde que ficasse perto, se ele quisesse voar para longe era só chamar, que voltava, mas uma vez não voltou. De casa em casa, o menino foi indagando pelo tuim: "que é tuim?" perguntavam pessoas ignorantes. "Tuim?" Que raiva! Pedia licença para olhar no quintal de cada casa, perdeu a hora de almoçar e ir para a escola, foi para outra rua, para outra.
Teve uma idéia, foi ao armazém de "seu" Perrota: "tem gaiola para vender?" Disseram que tinha. " Venderam alguma gaiola hoje?" Tinham vendido uma para uma casa ali perto.
Foi lá, chorando, disse ao dono da casa: "se não prenderam o meu tuim então por que o senhor comprou gaiola hoje?" O homem acabou confessando que tinha aparecido um periquitinho verde sim, de rabo curto, não sabia que chamava tuim. Ofereceu comprar, o filho dele gostara tanto, ia ficar desapontado quando voltasse da escola e não achasse mais o bichinho. "Não senhor, o tuim é meu, foi criado por mim". 
Voltou para casa com o tuim no dedo.
Pegou uma tesoura: era triste, era uma judiação, mas era preciso, cortou as asinhas, assim o bichinho poderia andar solto no quintal, e nunca mais fugiria.
Depois foi dentro de casa para fazer uma coisa que estava precisando fazer, e, quando voltou para dar comida a seu tuim, viu só algumas penas verdes e as manchas de sangue no cimento. Subiu num caixote para olhar por cima do muro, e ainda viu o vulto de um gato ruivo que sumia.
Acabou-se a triste história do tuim.


Parte 2 (Animais) - Crônica 3

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE PIO
Paulo Mendes Campos

No princípio do ano, para amenizar o reinício das aulas, as crianças compraram um pinto na feira.  Deram-lhe o nome de Pio. Todos que o antecederam tinham morrido, mas dessa vez residia no edifício uma senhora que entendia da sobrevivência de pinto de feira em apartamento perto do mar. Instruídas por ela, as crianças conseguiram manter acesa dentro de Pio a faísca da vida. Já de pequenino, mostrou-se pinto esquisito, achegado aos seres humanos e danado de andejo. Piava com monotonia os segundos todos do tempo, como se o chateasse a passagem das horas.
Em mudança de casa, passou dois dias subindo e descendo a escada, piando, piando, entre as pernas dos carregadores portugueses. Seu prestígio cresceu com o episódio; era tratado como gente e se orgulhava disso, assumindo um ar à vontade e presumido de bípede empenado.
Mas acabou me aborrecendo. Como as crianças tinham atingido a irremovível crise do cachorrinho, acabei cedendo, mas exigindo a extradição de Pio para a casa que o Zanine estava construindo na Barra da Tijuca.
Meses depois, ao visitar o amigo, Pio já era quase um galo, branco e bonito, mas extravagante e presunçoso. Indiferente ao terreiro, preferia desfilar na sala e na varanda, misturando-se às pessoas, peito estufado, chamando atenção para uma figura que ele queria irresistível.
Mais algum tempo, virou galo mesmo e aí não demorou a revelar os indícios neuróticos que o agitavam. Pio nunca tinha visto na vida outro ser galináceo.
Acreditava-se o único ente de sua raça, superior e absoluto. Firmou-se na crença carismática, deu para agredir os homens. Como estes se defendessem com a ponta do sapato, mudou de tática, bicando-lhes à traição a barriga da perna. Só respeitava o próprio Zanine, a quem não tinha afeição, mas considerava com gratuidade um aliado no combate contra o mundo. Seguia o dono por todos os cantos, não como um cão humilde, mas com a imponência do chefe de gabinete acompanhando o ministro.
Zanine, como aconteceu comigo, embora achasse graça na birutice de Pio, acabou saturado, dando o boboca de presente ao poeta Rubem Braga, que sempre foi um infalível receptador de aves desajustadas.
Já se sabe, o Braga é um fazendeiro do ar, morando entre hortaliças e cajueiros num décimo terceiro andar de Ipanema.
Insolente diante da natureza, Pio fez estragos na horta, desenterrou sementeiras, estraçalhou as couves, dando-se ainda à petulância de aborrecer, com relativo escândalo, a filha da cozinheira. Também o Braga, achando graça, foi complacente, impedindo que a cozinheira transformasse o doidinho em galo ao molho de cabidela. Mas acabou igualmente cheio, dando Pio ao hortelão português, dono de farto galinheiro no subúrbio. Antes, contudo, o galo foi colocado diante de um espelho, na esperança geral de que descobrisse o outro, o próximo, o irmão galináceo que ele devia amar como a si mesmo.
Não quis saber de nada, persistindo na neurose: durante meio minuto encarou a imagem com estupefação, deu-lhe as costas e se foi, único de sua espécie, dono da pretensão que o inflava da crista sanguínea ao facho da cauda.
Enfim chegou a hora do galinheiro, quando Pio passaria a viver uma vida normal dentro da comunidade, encontrando na força do amor a salvação.
Pois o bestalhão, mal ingressou no harém, matou a bicadas duas galinhas sinceras. E o português o comeu.

Parte 2 (Animais) - Crônica 4

O DIA DA CAÇA
Fernando Sabino

A caçada estava marcada para as 7 horas. Desde as 6, porém, Paulo e eu já estávamos de pé, aguardando a chegada de seu Chico Caçador.
- Seu Chico vai trazer as espingardas?
- Vai. E cachorro também.
- Cachorro? Para que cachorro?
Olhei com pena meu companheiro de aventura:
- Onde você já viu caçada sem cachorro, rapaz?
- Ele disse que hoje vai ser só passarinho.
- Passarinho para ele é codorna, macuco, essas coisas...
Em pouco chegava seu Chico, todo animado:
- Tudo pronto, meninos?
De pronto só tínhamos o corpo. Seu Chico trazia atravessadas às costas duas espingardas de caça e usava um gibão de couro, uma cartucheira, vinha todo fantasiado de caçador. Ao seu redor saracoteava um cachorro:
- O melhor perdigueiro destas redondezas.
Na varanda da fazenda, seu Chico se pôs a encher os cartuchos, meticulosamente, usando para isso uns aparelhinhos que trouxera, um saquinho de pólvora, outro de chumbo:
- Vai haver codorna no almoço para a família toda - dizia, entusiasmado.
Despedimo-nos comovidos da família e partimos através do pasto. Seu Chico, compenetrado, ia dando instruções, procurando impressionar:
- Parou, esticou o corpo, endureceu o rabo? Tá amarrado. É só esperar o bichinho voar e tacar fogo!
- Seu Chico, nós não vamos passar perto daquele touro, vamos?
- Aquele touro é uma vaca.
A vaca levantou a cabeça e ficou a olhar-nos, na expectativa.
- Por via das dúvidas, me dá aí essa espingarda.
Fomos passando com jeito perto da vaca.
- Bom dia - disse eu.
- Buu - respondeu ela.
Ao sopé do morro o cachorro se imobilizou.
- É agora! Me dá aqui a espingarda!
- Fiquem quietos - comandou seu Chico, num sussurro.
- Que foi, seu Chico? Não estou vendo nada...
Alguma coisa deslizou como um rato por entre o capim rasteiro, levantou vôo espadanando as asas.
- Fogo! Fogo!
Paulo atirou na codorna, eu atirei em seu Chico.
- Cuidado!
- Que bicho é esse?
Seu Chico suspirou, resignado:
- Era uma codorna. Não tem importância... Olha, quando atirar outra vez, vira o cano pro ar. O chumbo
passou tinindo no meu ouvido.
No ar ficaram apenas duas fumacinhas. Fomos andando, seu Chico carregou novamente nossas espingardas. Assim que o cachorro se imobilizava, ficávamos quietos, farejando ao redor, canos para o ar.
- Vira isso pra lá!
- Agora! Fogo!
Mal tínhamos tempo de ver uma coisa escura desaparecer no céu, como um disco voador.
- Asssim também não vai, seu Chico. Não dá tempo...
- Me dá aqui essa espingarda. Deixa eu matar a primeira para mostrar como é que é.
Andamos o dia todo pelo pasto. Nada de caça.
- Nem ao menos uma codorninha - suspirava seu Chico, quando o sol começou a dobrar o céu. - Tem dia que eu mato mais de quinze macucos.
Andando, subindo morro, saltando cerca, atravessando valas, pisando em barro, escorregando no capim. o estômago começou a doer.
- Seu Chico, o melhor é a gente desistir. Estamos com fome.
- Hoje no jantar vocês comem perdiz. Ou eu desisto de ser caçador.
Sua honra estava em jogo. A tarde avançava e seu Chico perscrutando o pasto, açulando o cachorro. Paulo, sentado num toco - desistira de andar: tirara o sapato e coçava o dedão do pé. Resolvi também fazer uma parada para caçar carrapatos. Seu Chico desapareceu numa dobra do terreno. De repente, pum! pum! - era o caçador solitário. Teria acertado desta vez? A vaca de novo. Vinha vindo pachorrentamente pela picada aberta por ela própria.
- Cuidado, Paulo! - preveni. - Olha a vaca.
Paulo se voltou para a vaca, que já ia passando ao largo:
- Buuu! - fez com desprezo.
A vaca se deteve, voltou-se nos flancos e de súbito disparou num pesado galope em sua direção. Paulo deu um salto, abriu a correr, passou por mim como um raio:
- Foge! Foge!
Atrás de nós a terra estremecia e a vaca bufava, escavando o chão com as patas.
- Seu Chico! Socorro!
Em poucos minutos e aos saltos, escorregadelas, trambolhões, cruzamos o terreno que leváramos toda a manhã a conquistar. Já na porteira da fazenda, nos voltamos para ver a vaca, que ficara para trás, entretida com uma touceira de capim.
- Devo ter falado algum palavrão em língua de vaca.
Em pouco regressava seu Chico, cabisbaixo, desmoralizado, quase chorando:
- Errei até em anu.
Procuramos consolá-lo:
- Um dia é da caça e outro do caçador, seu Chico.
Deixou conosco as espingardas e foi-se pelo pasto mesmo, evitando a fazenda e o opróbrio aos olhos dos moradores. Paulo e eu nos coçávamos, sentados no travão da cerca, quando ambos demos um grito:
- Epa! Que é aquilo?
- Você viu?
Uma caça, uma caça enorme! Um gigantesco galináceo que ao longe ganhava o morro em disparada, sumindo ali, surgindo lá - uma cegonha?
- Cegonha nada! Uma avestruz!
Saímos como loucos em perseguição da avestruz. Nas fraldas do morro disparamos o primeiro tiro.
- Socorro! - berrou a avestruz.
Deu um salto e abriu fuga com suas pernocas longas, morro acima. Ah, se seu Chico nos visse agora!
- Pum!
- Socorro!
E a ave pernalta fugia espavorida, escondendo-se na vegetação. Íamos no seu encalço, implacáveis.
- Pum! - trovejava a espingarda.
- Não! Não! - implorava a avestruz na sua fuga, largando penas pelo caminho.
A noite veio surpreender-nos do outro lado do morro, já às portas da cidade. Voltamos para a fazenda estropiados, roupas rasgadas, sapatos pesados de barro. Fomos recebidos com alegre expectativa.
- E então? Caçaram alguma coisa?
- Com seu Chico, nem um passarinho. Mas depois que ele foi embora quase apanhamos uma caça esplêndida, uma avestruz deste tamanho...
O dono da fazenda pôs as mãos na cabeça:
- Minha siriema, que eu mandei vir da Argentina! Imagine o susto da coitadinha!
Embarafustamo-nos pela cozinha, completamente derrotados.
- Que vamos ter hoje no jantar? - perguntei à cozinheira.
- Galinha ao molho pardo.
- Já matou?
- Não.
Empunhei a espingarda com decisão e voltei-me para o galinheiro, mas Paulo cortou-me os passos:
- Não faça isso! O crime não compensa.
E propôs que na manhã seguinte saíssemos para caçar borboletas.


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